sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Não seja um descontente!


"Meio século de vida me ensinou a aceitar um defeito do ser humano como 
algo incurável: sua insatisfação.  
Dei a volta ao mundo inúmeras vezes e conheci muita, mas muita gente 
mesmo. Travei contato íntimo com uma infinidade de fraternidades iniciáticas, 
entidades culturais, associações profissionais,  academias desportivas, 
universidades, escolas, empresas, federações, fundações... Em todas elas, sem 
exceção, havia descontentamento. 
Em todos os agrupamentos humanos há uma força de coesão chamada 
egrégora*. Pela lei de ação e reação, toda força tende a gerar uma força 
oponente. Por isso, nesses mesmos agrupamentos surgem constantemente 
pequenos desencontros que passam a ganhar contornos dramáticos pela 
refração de uma ótica egocêntrica que só leva em conta a satisfação das 
expectativas de um indivíduo isolado que analisa os fatos de acordo com suas 
próprias conveniências. 
Noutras palavras, se os fatos pudessem ser analisados sem a interferência 
deletéria dos egos, constatar-se-ia que nada há de errado com esses fatos, a não 
ser uma instabilidade emocional. Instabilidade essa que é congênita em todos 
os seres humanos. Uma espécie de erro de projeto original, que ainda está em 
processo de evolução. Afinal, somos uma espécie extremamente jovem em 
comparação com as demais formas de vida no planeta. Estamos na infância da 
nossa evolução e, como tal, cometemos inapelavelmente as imaturidades 
naturais dessa fase. 
Observe que raríssimas são as pessoas que estão satisfeitas com seus 
mundos. Em geral, todos têm reclamações do seu trabalho, dos seus 
subalternos e dos seus superiores; da sua remuneração e do reconhecimento 
pelo seu trabalho; reclamações dos seus pais, dos seus filhos, dos seus 
cônjuges, do seu condomínio, do governo do seu País, do seu Estado, da sua 
cidade, da polícia, da Justiça, do departamento de trânsito, dos impostos, dos 
vizinhos mal-educados, dos motoristas inábeis, dos pedestres indisciplinados... 
Quanta coisa para reclamar, não é? 
Se formos por esse caminho, concluiremos que o mundo não é um lugar 
bom para se viver e seguiremos amargurados e amargurando os outros. Ou nos 
suicidaremos! 
Já na antiguidade os hindus observaram esse fenômeno da endêmica 
insatisfação humana e ensinaram como solucioná-la:  
"Se o chão tem espinhos, não queira cobrir o chão com couro. Cubra os seus 
pés com calçados e caminhe sobre os espinhos sem se incomodar com eles." 
Ou seja, a solução não é reclamar das pessoas e das circunstâncias para 
tentar mudá-las e sim educar-se a si mesmo para adaptar-se. A atitude correta é 
parar de querer infantilmente que as coisas se modifiquem para satisfazer ao 
seu ego, mas sim modificar-se a si mesmo para ajustar-se à realidade. Isso é 
maturidade.  
A outra atitude é neurótica, pois jamais você poderá modificar pessoas ou 
instituições para que se ajustem aos seus desejos. Não seja um desajustado. 
Então, vamos parar com isso. Vamos aceitar as pessoas e as coisas como 
elas são. E vamos tratar de gostar delas. Você vai notar que elas passam a 
gostar muito mais de você e que as situações que antes lhe pareciam 
inamovíveis, agora se modificam espontaneamente, sem que você tenha que 
cobrar isso delas. Experimente. Você vai gostar do resultado! 
Texto extraído do livro "Boas Maneiras no Yôga", DeRose.

* Egrégora provém do grego egrégoroi e designa a força gerada pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade. Todos os agrupamentos humanos possuem suas egrégoras características: todas as empresas, clubes, religiões, famílias, partidos etc.

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